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sexta-feira, 15 de abril de 2011

COMÉDIA DA VIDA AMOROSA



Dudu era apaixonado por Janaína, mas nunca teve coragem para declarar o seu amor.

Enquanto o rapaz sobrevivia às noites corroídas pelo desassossego e pela insônia, a moça beijou Matheus, namorou Henrique, ficou com Cristiano, teve um rolo com Daniel, foi surpreendida em atitudes suspeitas com Pedro.

Sempre na companhia dos piores elementos do bairro (ou dos melhores, depende do ponto de vista), o futuro de Janaína (na opinião de D. Odete, a mais bem informada divulgadora das novidades sociais da região) não foi difícil de ser imaginado. E ninguém discutiu esse vaticínio quando, em um final de tarde de quarta−feira, indiferente à garoa que molhava intermitente os paralelepípedos da rua, a garota arrumou as malas e foi embora.

Dudu enlouqueceu. Não conseguia entender as razões que moviam aquela mulher, a mesma mulher que havia torcido o seu (dele) coração até que todo o sangue parasse de escorrer pelo corpo.

O clímax do desespero ocorreu quando ele compreendeu que não havia recebido sequer um bilhete de adeus. Emagreceu. Encolheu. Defendendo a postura de que tudo vale a pena se a tristeza for imensa, montou acampamento na frente da casa dos pais de Janaína. Sem se importar com o ridículo, esperou pela volta da namorada que nunca tivera.

De tanto ficar exposto às intempéries climáticas, ficou doente. E, em menos de uma semana, foi repartir a melancolia com querubins e serafins, pois somente os anjos conseguem compreender aqueles que morrem por amor.

Em São Paulo, onde vivia alugando o seu apetitoso corpo de 22 anos, Janaína soube da tragédia através da Internet. Desviou o olhar da tela do computador, pensou um pouco sobre a questão e, uns dez segundos mais tarde, disse para uma amiga no camarim da boate:

− Eu até gostava desse sujeito, sabe? Era bonitinho. Mas ele não queria nada comigo. Eu ficava imaginando o momento em que ele viria falar comigo. Nunca veio. Era como se eu não existisse para ele. Adiantou tanta frescura? Morreu. Enquanto isso estou aqui, cada vez mais gostosa. O bobo não sabe o que perdeu.

3 comentários:

  1. QUE DESENCONTRO DE ALMAS POR MERA TIMIDEZ DELE E POR PURA ARROGÂNCIA DE SE ACHAR A TAL, LAMENTOSO ISSO E UMA GRANDE HISTÓRIA DE AMOR SE PERDEU NO TEMPO E EVAPOROU NO VENTO... MUITO BOM SEU CONTO Raul Arruda Filho...

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  2. Raul,adoro ler seus textos. Sempre tem uma surpresa, nunca é "apenas uma história"...

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