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sexta-feira, 29 de abril de 2011

EMÍLIO DE MENEZES (ALGUMAS HISTÓRIAS)

Algumas pessoas vieram ao mundo a passeio. E o seu trafegar pelo tempo e pelo espaço sempre foi em ritmo de festa. Emílio de Menezes (1866−1918) foi um desses iluminados. Era um homem gordo que, nas horas vagas, talvez por pura pândega (como se dizia na época), cometia alguns versos parnasianos. No entanto, suas melhores e mais importantes qualidades eram outras. Sarcástico e mordaz, foi, sem a menor dúvida, o gatilho mais rápido do humor brasileiro. Rei do trocadilho, Menezes era daqueles que perdem o amigo, mas não perdem a piada. Em outras palavras, brigou com meio mundo – a outra metade já não o suportava há muito tempo!
Nasceu em Curitiba (PR), mas morou quase toda a sua vida no Rio de Janeiro.


HISTÓRIAS

Um poeta encontrou Emílio em uma confeitaria (os bares da época) e lhe disse:
− Ontem escrevi dois sonetos. Um deles está aqui. Vou lê−lo e gostaria de ouvir as tuas impressões. Amanhã trarei o outro, para tua apreciação.
Depois de ler o soneto com ênfase, o poeta fez a pergunta:
− O que você achou?
Emilio, que tinha ouvido com atenção, disparou:
− Prefiro o outro.

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Passou uma senhora carregada de jóias. Alguém fez o comentário:
− Que lindos diamantes!
Emilio se limitou a dizer:
− Podem ser di... amantes.

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O poeta Guimarães Passos, tuberculoso, vivia lutando contra a doença. Quando publicou o livro "Tratado de Versificação Portuguesa", Emílio não perdoou:
− Desde que eu o conheço, ele tem tratado de ver se fica são.

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Depois de uma conversa com Emílio, Teixeira Mendes (um dos líderes do positivismo), despediu−se:
− Até logo. Eu agora vou para o apostolado.
Emílio retrucou, de bate−pronto:
− E eu vou para o lado oposto.

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Certa senhora, encontrando Emílio na rua, pôs−se a apalpar seu (dele) ventre e fez uma referência a sua (dele) gordura:
− Nossa! Como engordaste, Emílio! O que há aqui por dentro, hein? Você pode me dizer?
Emílio, num gesto, desceu com a mão da cabeça ao barrigão, explicando:
− Até aqui, uísque! Daqui para baixo, parati!

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Em uma exposição de cereais, um desses gozadores eternamente de plantão apontou Emilio e brincou:
− É milho!
A reação foi instantânea:
− Hoje você está com a veia.
E pondo a mão no ombro do engraçadinho, o impediu de escapar:
− Não S’evada. Com isso é que me in... trigo.
E, fazendo o adversário sentar em uma cadeira, aplicou o nocaute:
− Sentei−o!



Ao lado, busto do humorista (e poeta) em Curitiba.

Um comentário:

  1. E a história, muito melhor do que essas: uma vez ele pegou o bonde. Como era uma figura conhecida, muitos queriam estar perto pra ver seus trocadilhos ou pra gozar da sua fama. Então uma atriz logo que o reconheceu tentou se sentar ao seu lado, mesmo estando o banco lotado, já com quatro ou cinco pessoas. Então ele lhe diz: atriz atroz atrás há três.

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