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segunda-feira, 30 de maio de 2011

AULA DE HISTÓRIA (farsa em três atos)

ATO 1

Início de março. Final da tarde. Eram cinco, tinham entre 18 e 20 anos, e estavam sem um centavo no bolso. Mais do que isso, estavam entediados.

A voz de Ramiro iluminou a escuridão:

− Lá no colégio está cheio de gatinha carente! Cada uma mais gostosa que a outra! Vou prá aula!

E deu uma piscada cafajeste, como se estivesse compartilhando com os amigos o mapa do tesouro. No princípio, ninguém entendeu exatamente o que estava recebendo. Rubens foi o primeiro a reagir:

−Cê tá é loco! Eu passei a vida toda fugindo da escola e agora me aparece um idiota propondo ir à aula. E sem precisar. Ridículo! E, quer saber de uma coisa, mulher eu arranjo a hora que quiser!

As gargalhadas foram ouvidas na outra quadra. Depois do ponta−pé na bunda fornecido por Marianinha, nem gripe o coitado conseguia "pegar".

Ramiro insistiu:

− Semana passada, uma lourinha, aquela loucura de sempre. Foi bom. Preciso contar os detalhes? Coisa fina! Ela está me esperando, lá no portão do colégio. Tô indo. Um abraço pra quem fica!

Menos de cinco passos e os outros já estavam ao seu lado. Rubens ainda tentou reverter a situação:

− Você falou em assistir aula? E se nos pegarem? Já imaginou o escândalo? E a chamada? E se os nossos nomes não estiverem na chamada? Meu pai vai ficar furioso!

− Covarde! Medroso! Seguinte: o ano escolar está começando, as listas de chamada ainda não estão prontas, qualquer coisa a gente diz que vai até a secretaria resolver o assunto. E, fazer o quê?, não volta mais. Relaxe. Pense no mais importante: as gatinhas! Um monte delas!! E todas a perigo!! Nós vamos salvá−las da solidão. Seremos, por assim dizer, príncipes modernos!!

− Não dá pra acreditar, você enlouqueceu de vez. Acho que essa tua mania de só pensar em sexo ainda vai te trazer grandes complicações

− Tudo bem! Ou você cala a boca e vai conosco ou... sei lá, fica na mão. Escolha de uma vez e pare de encher o saco!

Depois disso ninguém mais abriu o bico para contestar o óbvio.


ATO 2

Na frente do colégio, Ramiro encontrou a tal lourinha e... desapareceu.

Quando soou o sinal de entrada das aulas, os outros, quase por inércia, entraram nas salas de aula. Dois seguiram um ruiva escultural que entrou na sala da direita, os outros resolveram tentar a sorte em outra sala. Foi lá que tudo aconteceu.

Estavam na fase de reconhecimento do "material humano" quando o professor entrou na sala e cumprimentou uma "fofinha" sentada na primeira fila. Depois, inspecionou a tropa, digo, os alunos. Ao ver Marcelo e Gabriel, imediatamente suspeitou de alguma coisa, não era comum ter alunos tão bem alimentados no período noturno. Sem o caderno de chamada, nada pode fazer.

A aula era sobre a Revolução Francesa e ele escreveu errado uma das datas.

− Fessor, Danton "perdeu a cabeça" em 1794. Cê errô!

− O quê?

− Tá errado o que cê escreveu no quadro!

Alguma coisa estava errada, não havia dúvida. Além da data, é claro.

− Não me lembro de ter te visto antes. Você é aluno novo?

− Fessor, quequéisso, tá na defensiva? Tô dizendo que você cometeu um equívoco, acho que foi um equívoco, e cê, em lugar de corrigir o erro, pede os meus documentos, como se fosse um meganha?

Lá na frente, a "fofinha" cruzou as pernas, mostrando o quanto a natureza era generosa.

− Meganha? Epa! Aluno meu não usa esse tipo de expressão. De onde é que você surgiu?

Na maior cara−de−pau, Gabriel mostrou que tinha um ás na manga:

− Meu pai é militar. Foi transferido e a família teve que vir morar nesse fim de mundo.

− Sei... E o senhor, pelo visto, sabe tudo sobre a Revolução Francesa, não é mesmo?

− Só o suficiente, sabe como é que é, pro gasto.

− Sei...

− Qué isso, fessor? Num queria tumultuar a aula.

− Está bem. Vamos em frente.

O resto da aula foi aquela tensão: os alunos torcendo para Gabriel interromper o professor, acusando um novo erro; o professor, rezando para que não ocorresse outro incidente.

Depois do intervalo, quando o professor voltou para a sala, faltavam três alunos: Marcelo, Gabriel e a "fofinha".


ATO 3

Alguns dias depois, Gabriel procurou pelo professor. Explicou a brincadeira. Pediu desculpas. E agradeceu. Estava namorando a "fofinha".

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