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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MÚSICA AO ENTARDECER


No palco, em frente ao lago do Tanque, o som das cordas do violão alterou o ordenamento que rege o mundo.

Fim de tarde. Céu plúmbeo. A umidade aumentando a cada instante, ameaçando se transformar em garoa. Vento fraco, desses que − incapazes de produzirem algum estrago significativo − causam arrepios na superfície da água. O frio também queria estar em cena. Tanto que invadiu o palco sem fazer alarde, convidado inesperado. Quem estava agasalhado não se sentiu molestado. Aos outros, a súbita mudança de clima serviu de aviso sobre a forma com que o planalto acaricia a pele e os ossos de quem se deixa contaminar pela doce ilusão de que o verão está se aproximando.

As cores do mundo ficaram mais luminosas, grandiosas, quando som da gaita acrescentou um pouco mais de força à música − lembrando que a criatividade e a beleza gostam de namorar os timbres mais selvagens.

Depois, apareceu o outro violão. Um pouco mais de emoção. Modesto, menos ostensivo, voz sonora em segundo plano, acrescentou encanto ao que parecia estar próximo da perfeição.

Os três instrumentos em ritmo de festa. Uníssonos. Complementares. Abraçando o mundo com elegância e equilíbrio. Surpresas a cada acorde, sorte de quem estava ali a sonhar com o prazer, a se perder na fantasia sonora. Sedução e poesia desmanchando a vida. Vertigem e desatino, viagem sem destino ou fim.

O concerto se estendeu por cerca de hora e meia, talvez um pouco mais. Revezaram−se as canções em alegres combinações melódicas, ora líricas, ora complicadas, algumas vezes tempestuosas, outras mais calmas, todas harmoniosas. Os dois violões ponteando aqui e ali, a gaita despontando acolá, duelos sem vencedor, esplendor e enlevo, viver sem peso ou dor.

Quando tudo terminou, a escuridão tinha tomado conta de tudo.

Imersa no silêncio, a cidade percebe que um dos sinônimos da felicidade é a música.


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