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quarta-feira, 16 de maio de 2012

CARLOS FUENTES (1928 − 2012)

Deve−se ter muito medo de escrever. Não é um ato natural como comer ou fazer amor, é de certa forma, um ato contra a natureza. É dizer à natureza que não se basta a si própria, que precisa de outra realidade, da imaginação literária. Com essas palavras agudas, Carlos Fuentes, em 2008, comprovando que não gostava de blefar, mostrou as cartas que tinha na mão.

Ao lado de Juan Rulfo e Octávio Paz, Carlos Fuentes era uma espécie de mosqueteiro da literatura mexicana. Dono de inesgotável e insuperável senso de humor, Fuentes esgrimia diariamente contra a mediocridade, contra o atraso social, econômico e político que caracteriza o México. Além disso, como convém a um bom pai, mostrou aos novos escritores (Xavier Velasco, David Toscana, Ignácio Padilla,...) que era possível viver de (e para a) literatura.

Alguns de seus livros, como A Região Mais Transparente, A Morte de Artêmio Cruz, Gringo Velho e A Cadeira da Águia, são impressionantes exercícios de criatividade e talento – e foram traduzidos para mais de vinte idiomas.

Tendo como tema a luta dos camponeses indefesos contra as injustiças sociais, Fuentes retratou, em sua ficção, uma região inóspita, repleta de mercenários e coronéis políticos. Sem perder de vista as motivações políticas, nunca se esconder de assuntos espinhosos. O México, guardadas as devidas proporções, é uma representação moderna do inferno.

Basta lembrar que um de seus livros, Aura, publicado em 1962, se tornou mundialmente famoso quase 40 anos depois, quando o Ministro do Trabalho proibiu que sua filha adolescente lesse uma cena erótica que faz parte do enredo do romance.

Foram Edmundo de Amici (Cuore) e Mark Twain que abriram os olhos e a imaginação de Carlos Fuentes. Depois vieram Alexandre Dumas, Pablo Neruda, Jorge Luis Borges e Miguel de Cervantes. Era um admirador fanático de Dom Quixote.

Carlos Fuentes foi embaixador mexicano na França (1972-1976) e professor de inúmeras universidades estadunidenses e europeias. Ganhou o prêmio Cervantes (1987) e o prêmio Príncipe de Astúrias (1994). Parte de seus ensaios sobre literatura estão reunidos em Geografia do Romance.

Morreu em 15 de maio de 2012, vítima de hemorragia interna. Tinha 83 anos.

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