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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PARAÍSOS ARTIFICIAIS


Uma das trilogias que caracterizam o a−pós−a−modernidade (sexo, drogas e música eletrônica) encontra companhia nas histórias que acenam para o desencontro (amoroso, familiar, social). Em outras palavras, por mais injusto que isso possa parecer, o prazer possui prazo de validade e finais felizes não são compatíveis com narrativas que tangenciam a marginalidade comportamental.

Paraísos Artificiais (Dir. Marcos Prado, 2012), título que remete ao texto clássico de Charles Baudelaire, é um filme com um pé no consumo e outro no tráfico de drogas sintéticas. Acenando para a tradição da história musical – que está repleta de músicos dependentes químicos de todos tipos, independente do gênero musical – e dos drug-dealers, a história inicia em uma rave em uma praia no Nordeste e continua em Amsterdam. Reunindo clichês do mundo underground o filme dialoga (mesmo que seja de forma rápida) com algumas narrativas transpostas para o cinema: O Expresso da Meia−Noite (Midnight Express. Dir. Alan Parker, 1978), Trainspotting (Trainspotting. Dir. Danny Boyle, 1996), Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream. Dir. Darren Aronofsky, 2000) e Meu nome não é Johnny (Dir. Mauro Lima, 2008), entre outros.

A diferença está no tom utilizado pelo diretor do filme, que se apoiou na suavidade romântica para contar uma história sobre os perigos resultantes da falta de unidade familiar e da autodestruição. Além disso, como filtro para diluir questões mais agudas, Marcos Prado misturou inúmeras cenas de sexo selvagem e algumas ilusões: em terras européias, a história interrompida no Brasil se transforma em algo mais profundo. Unificando as situações, um menino criado sem o amor do pai.

Tudo começa quando Erika (Nathalia Dill) e Lara (Lívia de Bueno), junto com inúmeros amigos alternativos, participam de uma rave. Erika é DJ e foi contratada para trabalhar na festa. Lara não tem muitas ambições: quer aproveitar das coisas boas da vida. Isso significa dançar muito, ficar chapada o tempo todo e trepar sempre que for possível. Quando as duas mulheres estão juntas, Nando (Luca Bianchi), típico garotão carioca, é envolvido em uma rede de sedução – de onde não faz o mínimo esforço para escapar.

O resultado de tamanha confusão é uma tragédia básica (Lara morre em consequência de uma overdose). Os três amantes se separam. Sobram cicatrizes dolorosas.

Nando e Erika se encontram alguns anos depois em Amsterdam – o rapaz, por falta de sensatez, concorda em ser mula do tráfico internacional. Nova separação. Na volta ao Brasil, Nando é preso e passa quatro anos na prisão.

O desfecho da trama somente ocorre no Rio de Janeiro, quase por acaso, em uma dessas soluções ad hoc que caracterizam narrativas com problemas de amarração estrutural.

Parte do dinamismo do filme foi resolvido na mesa de montagem. Intercalar os três momentos temporais (rave, Amsterdam e depois que Nando saiu da prisão) é um truque que se mostra sumamente eficiente para conseguir captar a atenção do espectador.

Outro diferencial é a trilha sonora, que foi composta por Rodrigo Coelho e produzida por Gustavo MM. No set list estão Deadmou5, Renato Cohen, Flow et Zeo, Froga Cult e Magnetrixx.

Produzido por José Padilha (leia−se Tropa de Elite 1 e 2), Paraísos Artificiais tenta fornecer uma nova versão para um problema antigo: como aproveitar o que há de bom nas drogas e escapar impune. Não chega nem perto. O moralismo burguês não consegue se controlar e, repetindo inúmeros lugares comuns em parábolas edificantes, nada faz além de repetir o óbvio.

Marcos Prado, diretor de Paraísos Artificiais

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