Páginas

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

UM DIA PERFEITO PARA CASAR

As melhores histórias de amor estão repletas de desencontros, escolhas infelizes e tristezas. Nenhuma novidade. O clube dos corações partidos possui sócios nos quatro cantos do planeta. Além disso, sem drama não há trama − dizem aqueles que exploram as dores alheias.

A literatura e o cinema são duas das formas artísticas que deitam e rolam nesse mar de paixões − onde nem sempre é possível pescar peixões (ou trocadilhos de melhor qualidade).

Baseado no romance Cheerful Wheather for the Wedding, escrito por Julia Strachey, o filme Um Dia Perfeito para Casar (Dir. Donald Rice, 2012) alcança esse propósito com razoável competência. Com vantagem considerável sobre filmes similares. Diálogos afiados, dezenas de chistes, quilos de ironia, o humor britânico aflorando a cada cena – cada piada com a mesma competência e intensidade com que carrascos medievais cortavam cabeças.

Em dezembro de 1932, Dolly Thatcham, depois de viagem à Albânia e rápido noivado, vai se casar com Owen Arthur Bigham. As duas famílias e os amigos do casal estão reunidos na mansão de campo, em Devon. Entre os convidados, a irmã (Kitty), a melhor amiga (Evelyn), uma das tias (Belle), o cônego Bob, os tios David e Nancy Dakin (e o filho, Jimmy, de oito anos), a mãe, (a viúva Hettie), os primos Robert e Tom, e os irmãos gêmeos do noivo. Todos, de uma forma ou de outra, contribuem para que o circo pegue fogo.

Estamos aqui há dez minutos e já quero estrangular um membro da sua família, diz Nancy para David, e, depois de uma pausa, finaliza o golpe, O de costume. É apenas a antecipação do aforismo que emitirá um pouco mais tarde, Se quer uma razão para não se casar, vá a um casamento de família.

Joseph Patten, que foi amigo e, digamos, namorado de Dolly, também comparece à festa. Se for verdade que Meu próprio objetivo ainda é ser um cavalheiro inglês de mãos limpas e mente suja, também é verdade que ele não sabe exatamente porque foi até lá. Não está em seus planos atrapalhar o casamento. Quer falar com a noiva, dizer alguma coisa que nem ele mesmo sabe o que é. Objetivo que não se concretiza. Como se estivessem em um jogo de esconde−esconde, eles sempre estão em lugares diferentes. A câmera só os mostra juntos na ação pretérita. São os flash−backs que preenchem os hiatos, que fornecem os elementos faltantes para o entendimento.

Joseph gosta de cutucar na colmeia de vespas e correr para se esconder. Então, é claro, as vespas saem e mordem pessoas inocentes, diz Dolly, de certa forma explicando a si mesma. Foi em um jogo de cricket que se conheceram. Depois foram seis meses de companhia mútua, a presença de um complementando a existência do outro. Houve o baile e todos aqueles pequenos incidentes no piquenique. Na tarde que ele foi se despedir, pois estava partindo para a Grécia, ela o levou suavemente até a estufa de plantas e...

David e Nancy estabelecem parte das regras, antes que o mundo venha abaixo:

Apenas sorria para Hettie de meia em meia hora. É tudo o que peço.
Agora ficou preocupado com os sentimentos dela?
Eu gosto de Hettie.
Gostar. A palavra que usamos para aqueles que não conseguimos amar.

Depois do casamento, depois que a festa terminou e os noivos foram embora, depois que os primos e os convidados estão completamente bêbados e a tarde está findando, ainda há espaço para que a luz penetre na sala e preencha as últimas lacunas. O sofrimento silencioso desaparece, sobram acusações.

O tempo e a maré não esperam por ninguém, revela Joseph. Como sempre acontece, seja no cinema, seja na vida "real", todas as histórias de amor terminam mal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário