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sexta-feira, 22 de março de 2013

FÁBRICA DE DIPLOMAS – UM ROMANCE CÍNICO E DIVERTIDO


O professor universitário e escritor Felipe Pena, conhecido por defender a interação lúdica entre o leitor e o texto ficcional, em diversos momentos veste a fantasia de cruzado medieval  – como se estivesse predestinado a unir a cruz e a espada através da literatura de entretenimento.

Com uma bibliografia bastante significativa, que inclui alguns livros acadêmicos, a organização da coletânea Geração Subzero (20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores) e vários romances, Felipe Pena faz questão de escrever – em alto e bom som – que cansou de parte da brincadeira educacional. Pelo menos, no que se relaciona às universidades particulares, cursinhos walita e diplomas decorativos – utensílios do capitalismo contemporâneo, comprados em suaves e intermináveis prestações mensais.

O narrador do romance Fábrica de Diplomas, que foi publicado inicialmente com um título horrível: O Analfabeto que Passou no Vestibular, lança farofa no ventilador. Quilos. Toneladas. Sem nenhuma preocupação com a sujeira. Nem mesmo a literária. Na contramão do politicamente correto, usando a crítica de costumes como centro das atenções, consegue construir texto divertido e instrutivo.

Misturando episódios reais  (seja lá o que isso for) com a ficção ad hoc, abusando dos lugares comuns do romance policial e da psicanálise mais rasteira possível, o livro apresenta um grupo de personagens interessantes: o dono da rede de ensino e seu filho medíocre, o funcionário ambicioso (que não hesita em trair o patrão na primeira oportunidade), o psicanalista ingênuo, o brutamontes analfabeto.

Como pano de fundo para construir o enredo, o romance inicia com duas tramas diferentes: a guerra para controlar a rede universitária Bartolomeu Dias e a produção de uma droga sintética no laboratório de farmácia da Universidade. Como sempre acontece nessas situações, a bifurcação é aparente.


O psicanalista Antonio Pastoriza, elevado à categoria de detetive, segue as pegadas do inconsciente coletivo e não entende nada. Mais perdido do que cachorro que caiu do caminhão de mudanças, somente descobre o que aconteceu por acaso. Ele não faz o gênero clássico do detetive dedutivo ou investigativo – em algumas situações sequer é verossímil. Está em cena como um catalisador das ações narrativas. E até isso parece discutível.

No meio da confusão, enquanto Pastoriza corre para lá e para cá, feito uma barata tonta, os acontecimentos vão se desenrolando diante dos olhos do leitor, possibilitando que o desenho se complete e projete uma imagem com um mínimo de coerência. Ou seja, o narrador (em terceira pessoa) manipula a narrativa de tal forma que a carpintaria textual se distancia quinhentas léguas dos personagens "planos", sem a mínima personalidade ou humanidade, que habitam o romance escrito por Felipe Pena. 

Partindo dessa comprovação elementar, fica fácil aceitar os principais elementos narrativos desse romance cínico: parte da polícia é corrupta, mulheres bonitas sinalizam o perigo, o conhecimento é manejado pelos medíocres e, last but no least, o capitalismo predador não possui escrúpulos.

Enfim, Fábrica de Diplomas está envolto em milhares de clichês – alguns repetidos ad nauseam. Obviamente, isso não é impedimento para que a narrativa escorra limpidamente, de maneira prazerosa, retratando com crueldade absoluta os mecanismos de manipulação da massa (de manobra) estudantil. Impossível não rir – seja com a cretinice que caracteriza os personagens, seja com o espelho das estruturas educacionais do Brasil.               

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