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quarta-feira, 10 de abril de 2013

JUAN JOSÉ BIGAS LUNA (1946-2013)

O cineasta catalão Juan José Bigas Luna morreu em 05 de abril de 2013. Tinha 67 anos. Leucemia, dizem os jornais. Imediatamente entrei em estado de respeitoso luto. Bigas Luna foi – de certa forma – responsável por alguns momentos divertidos da minha vida adulta. Herói? Anti-herói? Nenhum dos dois. Mesmo assim um personagem importante. Desses que a gente somente percebe a falta quando não mais podem estar presentes.

Devo ter visto quase todos os seus filmes. Quer dizer, aqueles que foram lançados no Brasil em vídeo e DVD. Não foram muitos, claro. Muitos deles lançados vários anos depois da estréia em Espanha. Assisti – várias vezes – As Idades de Lulu (Las edades de Lulú, 1990), Jamón, Jamón (1992), Ovos de Ouro (Huevos de Oro, 1993), A Teta e a Lua (La Teta y La Luna, 1994), A Camareira do Titanic (La Camarera del Titanic, 1997) e Juani (Yo Soy La Juani, 2006). Talvez tenha visto outros.  Não recordo. Ele dirigiu cerca de vinte filmes. Só se salvaram, no meu arquivo mental, uma ou outra cena. E nenhuma pode ser considerada cinematograficamente importante. No básico, mulheres seminuas, lindíssimas. Forças da natureza.

Bigas Luna defendia uma espécie peculiar de cinema. Aquele em que o sexo heterossexual atua como força-motriz da vida. O destino dos indivíduos decidido na cama – ou no banco traseiro do carro. No limite entre a pornografia e a poesia em estado bruto. Sem deixar espaço para flores e amores corteses. Defendia a tese de que a vida está repleta de prazeres – que devem ser consumidos imediatamente. Abominava o moralismo católico e as lições politicamente corretas. Era um provocador profissional.

E isso quer dizer que alguns dos seus filmes flertam com questões complicadas. Desde os dramas psicológicos não-resolvidos (A Teta e a Lua) até as fantasias sexuais mais secretas (As Idades de Lulu). Manejou, com perícia de cirurgião, os perversos mecanismos de sedução amorosa (Jamón, Jamón) e a volúpia de contar algumas das histórias que mexem com o imaginário do espectador (A Camareira do Titanic). Também discutiu a forma corruptora com que o capitalismo predador altera o comportamento social (Juani).

Fotógrafo profissional, encontrou no cinema uma forma de “dominar” as imagens em movimento. Experimentou essa ilusão entre 1974 e 1977, com vários documentários e curtas-metragens. Em 1978, decidiu dar um passo no escuro. Encontrou terra firme. Tatuagem, baseado em um dos romances de Manuel Vásquez Montalbán, foi o seu primeiro longa-metragem. O segundo, Bilbao, participou do Festival de Cannes de 1979. O reconhecimento demorou um pouco, mas não muito. Jamón, Jamón ganhou o Leão de Prata do Festival de Veneza, em 1992.

Embora fossem contemporâneos, Bigas Luna divergia frontalmente de Pedro Almodóvar – por motivos ideológicos, culturais e sexuais. No entanto, os dois cineastas comungavam do talento de diversos atores, sendo os mais famosos Javier Bardem e Penélope Cruz.

Transitando entre o real e o imaginário, Bigas Luna sabia misturar erotismo e boas histórias da vida privada. Apesar do olhar reprovador das mentes mais obscuras, que imaginam o sexo como um tema proibido, atrás da câmera ele era um mestre – eternamente encantado com a beleza da mulher espanhola. Fará falta.    

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