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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MICHEL DE MONTAIGNE EM CINQUENTA FRAGMENTOS



 – Proibir algo é despertar o desejo.

– A prova mais clara de sabedoria é uma alegria constante.

– A filosofia não passa de uma poesia sofisticada.

– A covardia é a mãe da crueldade.

– Ninguém está livre de dizer tolices; o imperdoável é dizê-las solenemente.

– Por mim, teria evitado casar até mesmo com a sabedoria – caso ela me quisesse.

– Nada parece verdadeiro que não possa parecer falso.

– O silêncio, tal como a modéstia, ajuda muito numa conversação.

– Pode-se ter saudades dos tempos bons, mas não se deve fugir ao presente.

– Todos os dias se encaminham na direção da morte. O último a encontra.

– Ensinam-nos a viver quando a vida já passou.

– Podemos ser instruídos com o conhecimento de outro, mas não podemos ser sábios com a sabedoria de outro.

 – Costumo responder, normalmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens: que sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro.

– A palavra é metade de quem a pronuncia e metade de quem a ouve.

– Não existe conversa mais tediosa do que aquela onde todos concordam.

– Quem teme o sofrimento sofre já aquilo que teme.

– A alma dos imperadores e dos sapateiros é tirada do mesmo molde.

É inexplicável quanto me servem os livros para viver: são o melhor alimento que tenho encontrado nesta viagem da vida humana. Com bons livros, o enfermo não deve queixar-se, pois tem a cura ao alcance da mão.

– Nunca devemos dizer tudo, pois seria tolice; mas é indispensável que aquilo que se diz corresponda ao nosso pensamento; de contrário, é maldade.

– Quem deseja diminuir a sua ignorância deve, em primeiro lugar, confessá-la.

– Existem algumas derrotas mais triunfantes que vitórias.

– Do mesmo papel em que lavrou a sentença contra um adúltero, o juiz rasgará um pedaço para nele escrever umas linhas amorosas à esposa de um colega.

– As leis mantêm-se em vigor não por serem justas, mas por serem leis.

– Não se corrige aquele que enforcamos. Corrigimos os outros através dele.

– Aquele que castiga quando está irritado, não corrige, vinga-se.

– Só os loucos  têm certeza e não mudam de opinião.

– Não há paixão que abale tanto a sinceridade dos juízos como a cólera.

– A velhice produz mais rugas no espírito do que no rosto.

– A mais sutil loucura é feita da mais sutil sensatez.

– Odeio esse acidental arrependimento que vem com a idade.

– Uma das maiores sutilezas da arte militar é nunca levar o inimigo ao desespero.

– Os hábitos são a vitória do tempo sobre a vontade.

Se me obrigassem a dizer porque o amava, sinto que a minha única resposta seria: ''Porque era ele, porque era eu”.

– Mesmo no mais alto trono do mundo estamos sempre sentados sobre o nosso rabo.

– O arqueiro que ultrapassa o alvo falha tanto como aquele que não o alcança.

– As mulheres ficam coradas quando ouvem falar daquilo que não receiam de modo algum fazer.

– A morte é de fato o fim, no entanto não é a finalidade da vida.

– Se eu fosse um fabricante de livros, faria um registro comentando as diversas mortes. Quem ensinasse os homens a morrer, ensiná-los-ia a viver.

– Casamentos. Dá-se com eles o que se dá com as gaiolas: os pássaros que estão fora querem entrar nelas desesperadamente; e os que estão dentro, mostram a mesma ânsia em sair.

– Não há menos tormento no governo de uma família do que no de um Estado inteiro.

– Abandonar a vida por um sonho é estimá-la exatamente por quanto ela vale.

– Quando puder ser temido, ainda mais me quero fazer amar.

– Poucos homens foram admirados pelos seus criados.

– Saber de cor não é saber: é conservar aquilo que está guardado na memória.

– O lucro do nosso estudo é nos tornar melhores e mais sábios.

– A minha opinião é que nós temos de nos emprestar aos outros, mas apenas nos darmos a nós mesmos.

– O nosso maior prazer neste mundo são os pensamentos agradáveis.

– Na verdade, o cuidado e a despesa dos nossos pais visam apenas enriquecer as nossas cabeças com ciência; quanto ao juízo e à virtude, as novidades são poucas.

– Qualquer que seja a aparência da novidade, eu não mudo facilmente, com medo de perder com a troca.

– Afinal de contas, atribui-se preço bem alto às suas conjecturas quando se cozinha um homem vivo por causa delas.

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